Ser bom e ser ruim, quem não?
Hoje de manhã minha mãe acordou e me olhou docemente, é bom ter você aqui, filha, é bom ter você aqui, e havia verdade nas palavras e nos olhos dela. Temos tido o cuidado de muitos cuidados recíprocos. Mas nem sempre.
Hoje de noite uma de minhas melhores amigas esteve aqui, eu sei da minha importância para ela e vice-versa, quarenta anos de amizade. Ela é reservada e eu sou expansiva, entre a gente eu não faço questão de falar porque tenho outras rotas de saída, então ouço mais que falo, quase sempre é assim e essa é nossa dinâmica. Pois bem, ela e mainha são muito parecidas, eu vejo isso e elas também acham. É interessante olhar as duas conversando sobre as durezas da vida e sobre como transpuseram as coisas com dureza e bravura. Vejo muita verdade e muitíssima necessidade de reconhecimento. E eu dou. Nesse jogo eu não ganho, eu ouço e acolho.
Hoje mainha me descascou para ela, e ainda disse que era para o meu bem. Mainha subiu no palco e parecia um stand up, falando sobre as cápsulas de café que guardo para quando eu tiver tempo, que minha amiga não traga mais (para a minha casa!), falou sobre a minha casa, sobre as roupas que saíram para doar, sobre eu ser acumuladora, que não sou, apenas não tinha tempo de retirar roupas em desuso nesses últimos dois anos. Falou e falou e então se revezou com minha amiga e entraram na seara de peso. Ela sobre as roupas que guardo para quando emagrecer e minha amiga sobre as roupas que a mãe dela guarda. E por aí foi, tentei sinalizar para mainha que não estava gostando e ela: ela tá ali me dizendo para não dizer, mas eu vou dizer! E continuava, chegou a dizer que 'era para o meu bem'. Escrevendo aqui eu sinto raiva.
E eu fiquei ali pensando na dicotomia desta forma de ser, que tanto me machucou quando criança. Fiquei com vontade de rir e assistir o show no lugar de ficar com raiva, terapia e estudo me fizeram entender tanta coisa... Graças, passei a noite bem, conversando, o assunto mudou, não deixei transparecer, não era momento. Amanhã vou colocar limite. Com toda paciência vou ensinar a ela limite.
Meu pai jamais faria isso. Ele não é ela. E lembro que havia sentido em dizer que eu gostava dele do tamanho de 1000 céus e dela 999. E ele sempre me pedia, tá certo minha fia, mas sua mãe vai ficar chateada, não diga a ela. Aqui tenho 5 anos.
Estou aprendendo tanto sobre ela e sobre mim mesma! Eu não vou sair daqui correndo com raiva, estou com a oportunidade de estudar o mecanismo ao vivo, amorosamente, depois racionalmente. Deixa ela dormir. Amanhã vou falar.
Também vi ontem e hoje ela um pouco irritada de noite, quando adolescente eu achava que era comigo. Não é. Apenas quando ela fica cansada ela fica aborrecida e chata. Tenho nada a ver com isso.
Ao mesmo tempo minha filha se afastou bastante depois que painho faleceu, pegamos a cadela e todo o afeto vai para a cadela, se ela estiver saudável, que é o que parece, ok. E sempre que mainha está por perto, é com mainha que ela se parece. Isso não me dói, não mais. Esse movimento cíclico de afastamento e aproximação já tem quase uma década. Tou cansada. Que ela se pareça com mainha fisicamente, com minha irmã e mainha emocionalmente, que ela seja livre para parecer e ser como quiser. E principalmente que eu seja livre. Escrevendo aqui eu sinto mágoa.
Hoje queria estar na minha casa com a minha gata. Eita eita que inventei sarna para me coçar.
E assim vou revendo os meus conceitos construídos no passado, trazendo eles para o presente para serem ressignificados. Um verdadeiro big brother de constelação ao vivo.
No final, este movimento é principalmente para mim. Quando ele terminar eu vou embora em paz. É isso que eu estou atrás, fazer as pazes com o meu passado e estar inteira com o presente.

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