Gostei desta figura. Sempre falei em pedra do meio do peito, desde que descobri a existência dela em uma meditação, eu estava deitada na minha cama ouvindo as instruções de relaxamento e me surpreendi, de repente cheguei na pedra escura no meio do peito. Naquela época eu não sabia do que era feita, só sabia que pesava. Aos poucos, em meses e anos, as informações foram chegando e fui descobrindo do que ela era feita, e então cheguei no que acredito ser o fundamento, sinto que finalmente cheguei em lugar seguro dentro dela.

É interessante isso de inconsciente. Parece que a gente nasce livre, então se emaranha toda pra depois procurar a liberdade novamente. Estar na vida é isso. 
Uma criança nasce livre, talvez com memórias inconscientes? Não sei. Só sei que na vida eu me emaranhei toda, e se não consigo lembrar de outras vidas ou de carma, tento retornar o que eu puder para a liberdade da infância. Resgatar o gosto de aprender com liberdade e agora com maturidade. 

Liberdade com maturidade. Talvez esse seja o sentido do último terço da vida. E isso é bom. 

Sei que poucas pessoas tem a oportunidade e se dão a oportunidade de tentar consertar as coisas da melhor forma possível. E digo consertar as coisas, trazer lucidez ao presente em relação ao passado. Sim, é preciso disposição, perseverança, disciplina, boa vontade e abertura, para voltar refazendo o caminho, que as vezes é sem luz alguma, as vezes ilumina que ofusca, as vezes é amor, as vezes é raiva, as vezes é redenção, as vezes derrota. Mas antes de tudo, antes de absolutamente tudo, é de amor, o resgate de si mesma, que só acontece permitindo aos participantes do caminho o mesmo olhar amoroso, que mesmo que oscile, seja a luz clareando os passos. 

Sei que o que estou vivendo é raro. Sei do meu esforço e do meu merecimento. É bom me ver não duvidando disso. Eu decidi me resgatar das minhas próprias memórias de dor e sigo neste caminho. Também convidei todos que habitam a minha memória para estarem comigo neste processo. 

Lula eu acompanhei muito porque foi meu olhar de afinidade neste mundo, sobre ele fizemos tudo que pudemos, um em relação ao outro e, apesar da saudade e do amor, desejo que meu pai amado sossegue em paz.

Outro caminho mais raro e que estou trilhando é rever o olhar sobre Ana, olhar amorosamente para ela, para a potência que ela é, e amar a minha mãe exatamente como ela é. Ana é uma mulher de muitos cuidados, pequenos e grandes gestos de cuidado, e uma ansiedade e questões não cuidadas que afetaram a sua realização pessoal nesta vida. Sim, a Luciana criança queria muitas coisas que não vieram. Mas aqui tem um presente guardado que só estava esperando eu acordar. Um dos sonhos de painho era que a gente não continuasse com dificuldade de conversar, pois bem, está acontecendo, pai. 

O olhar de mainha era para você, painho, sempre foi. O meu também, não tinha como mainha concorrer porque tu me apoiava como eu era, mainha me apoiava esperando que eu fosse. E aí a discussão era certa, né. Aqui eu não vou discorrer porque já cansei e quero paz. 

Mainha está me ajudando muito, na dieta, no acolhimento, nas delicadezas, nos cuidados. 
Eu estou ajudando ela, no acolhimento, nas delicadezas, nos acompanhamentos a médicos.
Tu sabe que eu aprendi a gostar muito de privacidade e de estar sozinha, isso foi outra grande conquista, aprender a gostar da minha própria companhia. 
Estou com saudade de ficar sozinha, ao mesmo tempo estou muito satisfeita de estar em mainha. Estou recebendo tanto cuidado! E estou retribuindo painho, e tem sido uma grande experiência! 

Eu tenho consciência de que poucas pessoas se dão a oportunidade de refazer o caminho usando o amor como farol e a dor como combustível. Poucas pessoas chegam ao lugar onde se percebe que mesmo na dor havia amor. Poucas pessoas se dão a oportunidade de refazer o olhar sobre a dor. 

Talvez para escolher esse caminho seja necessário muito desespero e desesperança, uma dor insuportável o suficiente para colocar a vida em risco. Sim, talvez. 

Agora importa que eu fiz este percurso. E começo a perceber que este é um bom sentido para uma vida inteira. 





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