Um luxo de mulher. Fui no mercado deixar umas coisas na costureira. Parei no côco ralado e pedi. Uma mulher sentada mais atrás tomava água de côco na quenga já ralada, vestido de malha e cadeira de macarrão, chinelo nos pés. Segurava a quenga como uma taça, que a moça do côco enchia a cada vez que ia ralar outro, Satisfação era seu nome, tomava e limpava os respingos com as costas das mãos. E como era linda! Fiquei ali olhando e de repente senti o encanto. Uma lindeza de rosto e elegância de gestos! E falei: Tou aqui encantada! Como a senhora é linda! Linda e elegante! Ela sorriu e agradeceu. Pele curtida, olhos relativamente verdes e brilhantes, uns 70 anos. E me respondeu sorrindo: minha filha, obrigada, tenho 14 cirurgias, um pulmão e tirei três costelas, DPOC, sabe? e meu velho está na cama há 30 anos depois de um AVC, mas todo dia cuido e dou cheiro nele, ele não tem uma ferida. Eu tenho 84 anos e só me deito pra dormir, deixo o desânimo me pegar não. O que a gente tem que fazer é gostar de estar vivo, não afundar, sorrir e cantar e louvar a Deus. E de repente se pôs a me falar das receitas e ervas que plantava. Agradeci e me despedi. Tem beleza que é muito maior do que se vê, eu senti.

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