Omulu
Sonhei com um gato preto e branco, um gato que a gente descobriu que todos gostavam e que passava em todas as casas, e eu pensava, meu Deus, como ele pode estar em todas as casas ao mesmo tempo, e ser querido como gato pessoal, era um gato especial, muitos em um.? Eu também gostava dele. Ele era um gato único de algumas famílias do lugar. Eu tinha visto ele sentado na mesa branca de mármore, que tinha os pés de granito preto, eu gostava dele ali e uma figura masculina sentada na cadeira ao lado também gostava.
Um dia D. Edson (meu vizinho de 80) resolveu que o gato incomodava e levou o gato pra soltar longe, eu soube de manhã. Encontrei S. Edson na calçada com a família, comecei a conversar com ele tentando convencê-lo de que o gato era importante para todos, para ele me dizer onde tinha soltado para eu ir procurar. Meu pai ficaria triste sem o gato, e tio Ricardo (Titica) também. Depois de um tempo com ele resistente, resolvi dar um abraço nele, perguntei antes se podia, nem sim e nem não, decidi e abracei. Quando abracei alguma coisa se modificou, S. Edson perdeu a dureza e disse: há muito tempo que não recebo um abraço, por favor, não pare, e escondi a surpresa e amoleci também. E fiquei ali um pouco, depois entrei num carro para procurar o gato. No caminho vi um gato parecido e pedi para parar, desci, era o gato, manso, carente, com uma coleira vermelha indicando um cemitério onde vários animais eram cuidados. E eu pensei, era a coleira dele, só tinham mudado. Mas não era o gato que eu pensava, agora ficaríamos com dois, os gatos são parecidos, tem os mesmos sentimentos. Paramos no cemitério e Mel desceu para procurar, ela tava desconfiada, mas foi. Acordei.
Quando olhei hoje de manhã um vídeo de um cuidador abraçando um idoso na cama, lembrei do abraço do sonho, e lembrei do sonho. Acho que o abraço liberando dureza tem a ver com a conversa que tive ontem com mainha, pela primeira vez conversei sobre João Pessoa, depois que vi a minha energia laranja com sujeira anteontem, no dia da troca da GTT de painho, tenho me aproximado mais da emoção em si e dos sentimentos que eu senti quando tinha 8 anos.
O gato preto e branco talvez simbolize Omulu. Eu ia escrever Obaluaê, mas senti que era para escrever Omulu, então fui procurar no google, justo, Omulu nasceu com feridas devido aos conflitos entre seus pais.
O abraço e perder a dureza é provável que venha da conversa com mainha ontem de noite, quando ela disse que estava muito mexida mas não conseguia mais chorar. Ontem acertamos quase uma vida inteira entre a gente. Foi triste, libertador e bonito, se imaginar agora, posso ver a neblina entre a gente se dissipando. Também ajudou a me mostrar que ela tem certezas equivocadas, assim como eu. Ela pensa(va) que eu e Enock deitamos e rolamos até tarde, ela não abarcava que era o mesmo problema dela. Tanto que ela me disse que sabia que o potencial dela era maior que o de painho, tanto que quando ele fazia as 'merdas', ele pedia para ela ficar com ele pra não pensarem que ele era doido (e aqui a referência continua sendo painho o tempo todo). Eu disse a ela que também sabia do meu potencial, e que ela tinha se achado velha para fazer vestibular aos 28 anos. E que não adianta saber do potencial e não tomar posse dele, que ela só começou a tomar posse muitos anos depois do Donana estar aberto. E ela concordou.
Ela me contou sobre Luzia, eu contei sobre Cláudio e Beta, e até Neném, a empregada. Então entendi porque eu não me sentia bem com Luzia também, eu sentia o olhar de menosprezo dela. Mainha me disse que painho sempre me protegeu e esteve comigo e então eu disse que não consigo lembrar dele na casa de tio Zé Enock, não disse que também não conseguia lembrar dela, nem disse que era natural uma criança não contar o que aconteceu, ela mesma me disse que quando Cláudio me bateu e contei a ela, ela teve uma conversa comigo (eu com 8 para 9) que ela não podia fazer nada porque não tinha dinheiro, que eu tivesse paciência. Algo heróico para um adulto (resolvo quando puder....) mas devastador para uma criança. E painho também sumiu, eles tavam ocupados com as questões conjugais deles. Ela também disse que Cláudio era uma criança assim como eu, de fato, ele é só dois anos mais velho, eu disse a ela que uma criança não tem noção de que o outro é criança, ele era mais forte e me dizia que eu não valia nada e, dada a conjuntura da merda toda, acreditei.
O gato perdido talvez simbolize Omulu (e suas feridas) e Obaluaê, e a busca pela cura. E muito provavelmente, quando eu vejo que esse estou com o gato errado no meu braço (e penso que ele é um pouco diferente do outro mas tão amável quanto), e Mel desceu no cemitério para procurar o gato certo, talvez tenha a ver com essa mesma busca em relação ao pai dela.
E o gato em si, talvez seja porque vi uma postagem de Antônio e lembrei da gata que vive no prédio dele, e que talvez amoleça um pouco a dureza dele.
Mel ter descido para procurar o gato certo no cemitério, tem muito a ver com buscar o pai dela, que está enterrado também literalmente, para resolver as questões que machucam ela, a cada vez que nela adulta os sintomas aparecem. Resolver com a fonte os sentimentos e emoções que ela sentiu quando criança.
No final, não importa a merda toda que se vive, se você conseguir chegar no início e acolher a maldita criança que se esconde pra caralho, acolha aquela danada, ela é tu, sinta que ela é você, sim, aquela criança fodida por merda é você hoje, ela é sua ansiedade e seus sintomas. E libere tudo o que conseguir, esvazie você mesmo, assuma a sensação e as emoções por trás da ansiedade, deixe que você se funda com a criança, afinal, você é ela mesmo! Entende? Não tem dois e nem criança ferida, ela não é outra entidade, ela é tu agorinha, a cada vez que o seu peito arde e as entranhas gritam, e a ansiedade e os sintomas se mostram. Acorda! É tempo! Deixa teu peito e o peito dela se fundirem em um só, e se liberta libertando ela, tu mesmo.
O gato é esperado. Quando teu peito arder chamando, permita que ele entre. O presente é absolutamente só o que existe, e se até ele é formado de ideias, que magicamente permitem ações, por que entupir de passado?
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