Sexta participei de uma prática budista em dupla, um exercício, e aconteceu o que acontece aos domingos na reunião, eu sinto a energia da emoção da outra pessoa, era uma prática para estar com a vacuidade e falar sobre isso, mas a minha parceira falou sobre si, sobre seus medos e emaranhados, e em determinado momento quando chegou a minha vez de falar, eu estava com a presença da dor dela, e senti profundamente aquilo embora não estivesse sofrendo. Eu e uma desconhecida, e compartilhamos o que há de mais humano em nós. Ela se emocionou e eu também.
As vezes, acontece muitas vezes, as pessoas me contam sobre elas sem que eu peça, e eu gosto de ouvir, escuto com atenção e deixo que entre através de mim, então fico impregnada do outro. Sei fazer isso, e há poucos dias descobri que talvez isso tenha começado porque, como eu me julgo (ou julgava) demais e tenho medo do abandono e rejeição, eu aprendi a deixar o outro se mostrar e valorizo o que é compartilhado, talvez fosse o que eu queria que fizessem comigo mas não me arrisco, preciso saber do terreno antes, então gosto de primeiro receber o outro, saber o que ele coloca na mesa.
Quinta, na palestra do Lama, duas pessoas do grupo que eu só conhecia on-line, um homem e uma mulher, me abraçaram, me elogiaram evidenciando as questões que abordo, então a mulher me levou para o melhor lugar do auditório, a cadeira logo em frente ao Lama. Interessante que me senti estranha, fiquei envergonhada, eu ainda estou aprendendo a me ver querida, que na maioria das vezes sou. Mudei de cadeira e fui uma fila pra trás.
Durante muito tempo vivi com o olhar de que eu não tinha valor, acreditando em coisas que vivi na infância, eu havia me congelado lá.
De forma adulta fui amada uma vez, só que eu não sabia ser amada, então acabei o namoro da adolescência inteira. Há dois anos conversamos sobre isso e disse a ele que hoje era capaz de entender que ele me amou profundamente, mas que eu precisava ter passado por muitos caminhos para entender que posso ser amada de forma saudável.
De forma adulta amei uma vez. Ainda havia a ferida, sempre haverá de alguma forma e de preferência só a cicatriz. Foi a vez mais dolorosa, me senti abandonada e rejeitada mais de uma vez. Foi a primeira vez que fui atrás, vi potencial onde não havia, não para mim, o potencial está lá e ele brilha, eu vi, mas não era para mim. Esse amor foi um grande salto de liberdade através da dor. Aquilo de amar e não ser amada foi uma experiência interessante, escancarou a ferida machucada, e por essa abertura eu entrei com curiosidade e estudo e me investiguei. E continuo investigando.
Hoje, se me perguntar se amarei um homem novamente, eu não sei. Será uma construção, e talvez eu não tenha disposição para confiar novamente. O tempo trará se for para surgir.
Queria estar disponível, ainda não estou, não consegui aceitar nem convite para café de gente com potencial interessante. Quando penso no quanto terei que abrir de mim para estar disponível, fico indisponível, isso de casal parece complicado agora.
Ganhei a mim mesma, perdi disponibilidade. Ainda não sei jogar o jogo bem, então me escolho, e o equilíbrio entre um e outro vai chegar, acredito.
Foto: printei do @meditandojunto
Comentários
Postar um comentário