Mexi no baú das infelicidades ligadas à violência. Abri, senti, acatei, deixei que aquela energia entrasse em mim de novo, desta vez consciente. Não foi um visita fácil.

Dois dias depois recebi uma mensagem de um policial que conheci há alguns anos. Não foi grande surpresa, as vezes mexo em uma energia e quem tocou em minha vida e tem energia parecida, reaparece 'do nada'. 

Conheci Fulano e sai com ele algumas vezes, só nos beijamos. Um dia ele bebeu e soltou a voz, falou e falou e falou, as violências que fez, as que deixou de fazer, as que sentiu pesar por ter feito e ao mesmo tempo não se arrependia. Por fim, falou da saudade que sentia do pai, da música que não conseguia ouvir desde que o pai havia morrido uns seis anos antes, por causa da saudade. Naquela eu já tinha visto a armadilha... mas não consegui associar com meu primo, Rui, ele... Mais um e a vida me testando o que eu faria. Cai. Claro que eu seria capaz de fazer ele mudar!, não mudei Cláudio, não mudei Rui, mas ele mudaria! (essa associação completa só chegou hoje, na verdade, talvez cheguem mais associações). 
Coloca a música que te ajudo a ouvir, eu disse. E ele colocou, danou-se a chorar, a esmurrar a mesa, a dizer que não tinha condições, e de repente eu associei, e pensei: me fodi!

Mas ele foi se acalmando, conseguiu se controlar, agradeceu, nos despedimos e foi embora, lembro de ter pensado, cacete, era Rui todinho! Nunca mais o encontrei.

E eis que esta semana, há poucos dias ele ressurge justo no tempo em que remexi no baú, enviou músicas de amor e perguntou como eu estava e blá blá, pois é, energia é coisa séria. Como isso já aconteceu em outras ocasiões, com outras energias diferentes, já não duvido mais.

A violência com afeto é cinza, densa e pegajosa, ela vem de conhecidos. Antes de começar o ar fica denso, o meio do peito fica sensível, um medo cauteloso se instala. Os movimentos e a fala se movimentam com cuidado, tentando não furar aquela bolha, trabalhando nela para trazer a pessoa pro antes. Pro céu se tornar azul de novo. Como eu pensei, vão chegando mais insights. 

Lá na infância eu não tinha pra onde ir. No presente é totalmente diferente.

Não é minha responsabilidade ficar perto da violência, pelo menos da dos outros, eu não preciso mais dela, dessa necessidade de controle pra ela não explodir. Eu posso me afastar, simplesmente me afastar. Ainda não entendo porque, mas enquanto escrevo alguma emoção doeu saindo do meu peito e meus ouvidos estão apitando alto. O que é/foi, agora não me interessa, eu sei agir diferente. Agora eu sei. E muito provavelmente não chegará mais gente com essa energia pra perto de mim.

A energia de violência de desconhecidos é diferente, ele é só tensão e medo, uma tensão de éter e um cuidado extremo pra não deflagrar aquilo porque ela já vem na superfície, porque nela não tem afeto. Ela não tem cor, é medo e tensão e o ar fica rarefeito.

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