Sensível


"Meu bem, você já pensou que pode estar lhe exigindo respeito? Respeita seu cansaço, respeita seu novo olhar. Foi demorado".

Foi, foi demorado chegar onde estou em mim. Foi demorado acessar a dor e foi muito dolorido; É.

Chegar ao que parece ser a base da pedra é um caminho de muitas portas, venho abrindo uma a uma. A porta do não perdão, vergonha e culpa. Em seguida a porta da raiva e mágoa. E por fim a porta do Eu não sou.

Desta última, a do Eu não sou, já descobri um bocado sobre ela, ela é sobre não ser, sobre me diluir no mar. Alguém que se desesperou quando não viu saída, e se desfez na nova realidade apresentada, sendo quem quer que fosse para sobreviver. Era uma criança.

E então cheguei na próxima porta: Eu sou? 

E vejo, a porta ainda está fechada, ainda é pesada e não consegui abrir, uma muralha. E então chegou outra pergunta óbvia: Eu não sou? Sim. Você não é. Você é alguém que não existe. Olho para essa resposta que traz um sentimento, de bloqueio.

Mas, e se eu sou, e se eu for? Já consigo me olhar no olhar dos outros. Já consigo me sentir bem vinda no olhar dos outros. Já consigo me sentir segura comigo mesma. Então eu devo ser, ou estou me tornando. Eu gosto de quem eu me vejo nos outros. A porta de eu me ver sendo por mim mesma ainda não está aberta. Mas ela vai se abrir. Eu desejo e sigo aprendendo sobre isto. 

Hoje deixei mainha no ônibus para João Pessoa, deixei ela satisfeita e eu também estava. Não esperava ter uma crise de choro depois. Painho morreu e mainha foi embora. Quantos anos eu tive naquele momento? Os mesmos 8 quase 9 de quando me senti abandonada. Os mesmos 8 ou 9 em que desapareci de mim.

Hoje um amigo chegou pra mim e disse: deixa eu dar um abraço nessa linda! E nos abraçamos, e então ele disse: se eu gostasse da fruta eu dava em cima de você, porque eu te acho muito gata! Você tem borogodó, eu vejo muito isso mesmo não gostando de homem. Então eu disse gaiata: ainnn que delícia! E gargalhamos. E me vi querida e bonita aos olhos dele, e eu me vi por um instante. É bonito a gente se ver assim.

Eu e a porta vamos criando intimidade, um dia ela se abrirá. Antes, estou visitando aquela criança que fui, deixando que ela se apresente para mim, deixar que ela se apresente me fazendo sentir o que ela sente. Desta vez comigo consciente.

E um dia, verei tudo isso como um objeto,  um lugar onde eu me objetifiquei, congelei como verdade. Eu estou me libertando do objeto e de me objetificar. 



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