Momentos. 
Ontem ouvindo Cezar, La e Mel conversando e mainha respondendo, cheios de certezas, e de repente tchum, me desgrudei de mainha, meu coração se desenlaçou do dela e me senti completamente individualizada. Eu de repente estava ali assistindo e nenhuma parte minha estava emaranhada, principalmente com mainha. Foi muito bom. Estou aprendendo.

Estou aprendendo a não ser a menina crédula, em que tudo passa pelo coração e é vivenciado a partir deste sentido. Sim, porque se isso se tornou um dom, ele foi aprendido a partir da necessidade de expectativa a respeito do que se passava no outro, da ansiedade da necessidade de segurança que vem de antever o que aconteceria. De ler a expressão e as palavras para antever como me movimentar para a segurança. 

De início, não dou mais 10 a quem quer que seja, também não dou zero. Escolho o benefício da dúvida com observação, é uma medida justa e equilibrada, acredito.

O tempo está muito rico de aprendizado. Estou descobrindo quem mainha é (ou não é) sem painho. Estou aprendendo sobre a disponibilidade de cuidado dela, sobre a pessoa prestativa e amorosa que é. Também estou aprendendo sobre a infelicidade dela, de alguém que não solta o chicote em cima de si mesma. E sobre a carga de insatisfação que carrega.

Estou aprendendo que nunca foi especialmente sobre mim. 

A partir disso, o que eu quero carregar comigo?

Ontem cheguei no dentista de sempre, ele: engordou de novo! Me pegou de surpresa.  Ainda respondi: foi, perdi meu pai e foi muito estresse. Ele me conheceu neste peso, em 2013 após o processo de desapropriação do restaurante dos meus pais, também por estresse. Em seguida puxou outro assunto rápido sobre saúde e eu disse que estou com fibromialgia mas que falta ouvir outra opinião médica. Ele: eita, corticóide, vai inchar! Respondi que não foi necessário corticosteróide. 

Parei e me distanciei. Haja paciência.
Quem é ele e por que me expliquei? Porque eu sei que ele teve um problema sério e precisou de transplante renal, porque eu sei que ele perdeu um filho jovem por câncer, porque eu vejo nele bondade e disposição de ajudar, apesar da inconveniência. E porque eu costumo me explicar, para levar o outro em consideração e ser aceita. 

Eu não preciso mais disso.

E de novo pensei nisso tão humano, de se dar o direito de meter a mão na vida do outro e compensar com bondade. Não sei se a palavra é compensar ou se simplesmente somos assim e acabou-se. E aqui não fico de fora, também me percebo assim as vezes.

Somos esquisitos por natureza. Egocêntricos, uns mais, outros menos.

Hoje de manhã dei bom dia a mainha e ela falou da temperatura no Rio. Depois emendou que acha que tia Cecinha vem morar aqui. Perguntei se ela tinha dito. Não. Então vi, eram os pensamentos dela funcionando no modo habitual: vou começar a me (pre)ocupar!

Então parei e me distanciei. Ave Maria, Ana Maria!

E há pouco quando cheguei, ela tinha passado o dia costurando lençóis novos para a minha cama. Amorosa, atenciosa e presente.

Definitivamente, somos esquisitos. 
Definitivamente, para mim, o amor e a compreensão são a saída.
Tentar ficar no presente é um desafio.
Sigo aprendendo.
 



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