Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2024
Imagem
Me descobrir antes que tarde, sem pressa. "Que nossa proximidade e eventual intimidade nunca se torne razão pra acharmos que sabemos quem somos. Que aquilo que não vemos e não sabemos sobre nós seja sempre maior. Que está compreensão permaneça vividamente presente para que não desapareçam a curiosidade, o respeito e a delícia da surpresa. Que o perfume do mistério nos mantenha eternamente encantados. Sejamos, bons e velhos desconhecidos pra sempre!". Márcia Baja. Anteontem foi a noite mais longa mas já passou. Acordei pesada e ainda tou mas a vida e o tempo tão seguindo.  Já vim no hospital já vou pro dentista de lá pra perícia depois pro hospital de novo de noite pra casa de mainha, mas aí já é futuro que tomara que aconteça. E a minha casa? Mel tá morando lá. Talvez quarta eu volte, já tou fora há mais de duas semanas. Entrei em um novo universo, eu, eu quem? mainha, painho, trabalho, que entro de licença hoje, e uma vida que tive e tá distante.  E no meio disso tudo eu, qu...
Imagem
Agradeço a honra que um dia tive, sei que não estou sozinha. Meu amigo e senhor, peço que não deixe meu pai muito tempo na encruzilhada. O antibiótico não consegue chegar em áreas do pulmão com fibrose e sequelas de cigarro e de outras broncopneumonias, então painho fará uma broncoscopia para retirar a secreção em lugares de difícil acesso. Desejo de todo coração que o exame seja eficaz e consiga lavar os lugares onde a secreção não consegue secar ou sair, e que ele consiga passar mais alguns meses em paz conosco novamente. Sei que os cinco meses de março a agosto sem internação foram um grande presente. Peço a sua intervenção nesta encruzilhada para que o exame seja eficaz, e peço mais, se não puder atender ao meu pedido e chegar a hora de painho, peço a Deus para que meu pai não sofra e peço a sua proteção na travessia, peço que o meu pai não se demore em UTI ou com sequela. Meu pai é muito amado e gosta de viver e eu quero muito que ele fique, mas se não for possível, peço a honra d...
Imagem
Havia amor nos caminhos tortuosos nos apegos nos emaranhados  até na violência nos padrões de repetição  nos piores caminhos nas escolhas ruins nas relações feridas  Amor e dor Amor e raiva Amor e idealização  Amor e paixão  Amor e descuido  Amor e desrespeito Amor e medo Amor e dependência  Amor e desproteção Amor nunca foi o problema, o que se emaranhou com ele, sim.  Mas é possível reaprender sobre o amor e amar.  Amor e libertação. Amor e respeito. Amor e amor. Amor e afeto. Amor e admiração. Amor e parceria. Amor e confiança. Amor e bem querer. Amor para quebrar padrões. Amor para fazer diferente. Amor para aprender a vida dentro da vida. Amor para ser livre.  Amor para se ser quem se é. Amor para que tu me veja. Amor para que eu te veja. Amor entrelaçado e liberto. Amor confiável. Amor confiante. Amor apaixonado. Amor com sexo. Sexo apaixonante. Eu fico porque te quero como tu é. Tu fica porque me quer como eu sou. Eu não tenho med...
Imagem
Autonomia emocional, eu começo a saber do que se trata, é o lugar seguro dentro de mim. E hoje de manhã enquanto eu estava sentada na cama, satisfeita constatando que morar em mim é seguro, e que o esforço para chegar neste lugar tão simples valeu a pena, entrou pela janela no 19º andar um aripuá. Oi meu amor, estou te vendo, e ele voou um tempo perto do meu ombro. Então o perdi de vista e me levantei para procurá-lo porque eu ia sair e não queria deixá-lo preso no quarto Assim que me levantei ele reapareceu e saiu pela janela, nem o perdi nem o prendi, ele é livre e eu também, e de alguma forma continuamos nos encontrando. É seguro ser quem eu sou.  É seguro ser quem eu estou.  É seguro que eu escolha as minhas decisões, são as minhas decisões e a minha vida. Eu arco. É seguro que eu respeite os meus limites.  É seguro que eu me respeite.  É seguro que eu diga que não aceito, não quero, não farei. É seguro que eu não queira fazer para agradar.  É seguro que eu ...
Imagem
Que bom que eu sei te aproveitar, meu pai. E que bom que eu aprendi a aproveitar mainha ainda nesta vida.  Painho, quando tu fez febre na segunda de noite, no quinto dia de antibiótico hospitalar em casa, eu já tinha aprendido um bocado sobre a morte. Hoje ela me assusta menos.  Nunca é fácil ir na ambulância contigo, e senti raiva quando chegaram só um técnico e o motorista e me neguei a ir e mainha e La acharam que dava porque o hospital era perto, fiquei com raiva delas também. Bati o pé que não ia. E senti a satisfação da vingança quando o técnico disse que não tinha condições de te assumir e que eu estava certa, que deveria vir uma equipe com um médico.  Soberba eu, sim, as vezes sou. Quando acho que estão fazendo algo para me diminuir (que não foi o caso), surge uma raiva cega, vinda lá dos cafundós da infância, uma raiva que tava reavivada com a besteira escrita por meu primo. Esperei ela passar e também a sensação da necessidade de controle, e então bloqueei ele....
Imagem
Vou fechar o ciclo porque é importante, uma noite de sono trouxe revelação que precisa de decisão, e só quem pode decidir sou eu. Postei um foto do passeio, uma com meus amigos e uma minha. Postei a minha porque estava feliz e como sempre me escondo quando estou gorda, quis parar de fazer isso. E sim, eu estou bonita na foto, é bom admitir isso. Nesta foto surgiram dois comentários, um de um homem que me paquerou e me chamava para um café, mas sem marcar, e eu deixei solto porque não senti firmeza, ele tava ali ciscando e eu observando, isso faz alguns anos. E pouco depois dele parar de falar surgiu com um novo filho, a ex dele devia estar grávida enquanto ele paquerava. Enfim. Pois do nada esse homem comentou em público na minha foto: .... "Quando vier a Maceió venha me visitar". Quê!?? E alguém curtiu o comentário e acho que foi meu primo. Na mesma foto surgiu outro comentário, do meu primo: ... "Venha também visitar sua família em João Pessoa minha prima 😘". Qu...
Imagem
Amizade, daquela que me reinicia.  Download de vontade de viver. Sem regra, sem julgamento, sem censura, só companhia da boa e pro bem. Com eles me sinto tranquila em ser quem sou. Fomos a um restaurante gostoso, tomamos banho de mar, rimos e conversamos.  Com eles não sinto vergonha, e a gente voltando, soltei:  - Ainda sinto saudade dele, né foda!?  - Lu, tu sente saudade de algo, esse algo não é ele, não necessariamente ele.  - Não, a saudade é dele mesmo.  - E o que tu gosta nele? - Eu nem sei dizer, acho que eu me sentia segura com ele. Bom, hum, né, sei lá. Mas até a minha terapeuta já cansou e disse: é, você gosta dele, coração é terra que ninguém manda. E gargalhamos e o assunto mudou.  É bom estar entre amigos, é bom ter amigos que transmitem que é seguro eu ser quem sou.
Imagem
Eu tou me sentindo uma cebola, em cada ponto que me apoio achando que cheguei em terreno sólido, ele se desfaz e descubro que é só um modelo de ver. Nos momentos de interação com as pessoas de perto, tenho tentado dar uma passo atrás pra observar melhor, tou me descongelando de padrões. Uma coisa que tá difícil é quando reajo utilizando os padrões de antes, quando não consigo dar um passo atrás. O que era antes automático e agora é reconhecido, quando acontece de novo sinto uma certa vergonha, é como se agora sabendo eu tivesse dó, não só de mim, mas também da reação dos outros à minha reação, gerando um emaranhado que já não seria mais necessário.  É uma luta parar de sentir culpa. - Algumas culpas, como a compreensão real de algo negativo, não machucam se servirem de motor a transformação. É como a firme decisão de não ir mais em um lugar que me fez mal. No meu corpo, fora a tensão, é uma fome que não passa e já ganhei 13 quilos. - Ou são bombeiros ou outras questões fisiológicas...
Imagem
Dormi aqui em mainha, ontem amanhecendo o dia ela ligou, Lu, teu pai tá com febre, começou uma e pouco e a oxigenação tá oscilando, mas vamos tratar em casa, hospital de novo não e não sei ligar o oxigênio. Liguei pro meu irmão ir logo enquanto eu tomava banho pra ficar pronta pra ir na ambulância. O médico examinou e disse o esperado, vamos remover né; ele me perguntou? Aquele né não mentiu, buscava aprovação. Eu olhei nos olhos dele pra entender a pergunta, senti medo e serenidade. Se era aquilo que tinha, rebati, dá pra fazer em casa? E ele ficou me olhando... Dá. E aí me vi sozinha, a decisão era minha? Chamei meu irmão e mainha.  Chegaram duas sacolas grandes, os trinta kits de antibiótico e o material descartável, junto com uma técnica de enfermagem que virá três vezes ao dia pro antibiótico venoso, e seguimos a rotina de sempre de painho. É esquisito isso, tá igual ao hospital, só que a gente quem afere os sinais e se houver intercorrência não tem enfermeira por perto. Esse ...
Imagem
  Muitas vezes é difícil mesmo não adianta o quanto aprendi, não adianta o quanto observei, não adianta o quanto mudei algumas vezes simplesmente o que penso e racionalizo não é capaz de suportar a pressão emocional e os padrões voltam escangalhando a estabilidade e a observação equilibrada ouvi hoje de manhã que a emoção ocorre no nível físico, na junção entre pensamentos e corpo pois mal, racionalmente estou presente, mas no encontro da mente com o corpo, o meu corpo não mente ontem ouvi mainha, me tornei ouvinte demais, eu sei que ela não quer o meu mal mas ainda não aprendi a me defender do jeito dela de ser, ansioso e angustiado falando de um problema a outro, de um a outro, de um a outro, e nesse enredo eu me lasco não consegui ouvir minha filha, respondi perdida nas emoções dos gatilhos e ouvi mainha há pouco de novo, é muito difícil entender que quem me ama pode fazer mal, e mais ainda que sou capaz de repetir isso me sinto incompetente, incompetente comigo, incompetente co...
Imagem
 ... "Um raio que te chamusque e te convide a ver que tens a mesma natureza dos chamuscados"... Meditando Junto. Hoje levei mainha pra fazer um exame. Hoje de manhã eu mexi na memória que tenho dela de quando eu era criança, no exercício que fiz. Na volta do exame por ‘coincidência’, ela me falou de como foi a vida dela. E eu dei mais alguns passos para entender a minha própria vida, me localizando melhor na teia da minha família, assim como nos emaranhados.  A mãe de meu pai e a mãe de minha mãe eram irmãs, minhas avós eram irmãs, meus pais são primos.  Mainha foi criada livre até os 9 anos, quando teve uma convulsão e então foi tolhida. Quando tinha 12 anos a mãe de painho determinou que ela seria mulher dele, e que quando ele passasse no vestibular eles namorariam.  Meu pai era totalmente enquadrado por minha avó, ele era submisso a ela (palavras de mainha) porque ele era apaixonado pela mãe. Já painho, um dia me contou que sempre se viu amado por vovó, e que por...
Imagem
"Ainda que tudo seja abertura, nos fechamos. Ainda que tudo esteja mudando, resistimos. Ainda que não sejamos os mesmos de um momento ao outro, não vemos. Tem sido assim... Contemple!" Márcia Baja. Sim, tenho feito isso. Sim, eu tenho contemplado. E sim, eu estou mudando. 1° exercício do curso. Cinco minutos. Fiz o exercício da cadeira agora e estou mexida, busquei a minha mãe da infância. A cadeira permaneceu vazia, ela está bloqueada em mim naquela época. Respirei, respirei a nada. Bloqueio cinza sentido no peito. Vi o tempo acabando e busquei pensamentos de mainha de agora comigo adulta, ela é extremamente presente, e vi que estava manipulando. Então voltei a relaxar e deixei que a cadeira ficasse fazia, mesmo sentindo um pouco de culpa por não lembrar.
Imagem
Mexi no baú das infelicidades ligadas à violência. Abri, senti, acatei, deixei que aquela energia entrasse em mim de novo, desta vez consciente. Não foi um visita fácil. Dois dias depois recebi uma mensagem de um policial que conheci há alguns anos. Não foi grande surpresa, as vezes mexo em uma energia e quem tocou em minha vida e tem energia parecida, reaparece 'do nada'.  Conheci Fulano e sai com ele algumas vezes, só nos beijamos. Um dia ele bebeu e soltou a voz, falou e falou e falou, as violências que fez, as que deixou de fazer, as que sentiu pesar por ter feito e ao mesmo tempo não se arrependia. Por fim, falou da saudade que sentia do pai, da música que não conseguia ouvir desde que o pai havia morrido uns seis anos antes, por causa da saudade. Naquela eu já tinha visto a armadilha... mas não consegui associar com meu primo, Rui, ele... Mais um e a vida me testando o que eu faria. Cai. Claro que eu seria capaz de fazer ele mudar!, não mudei Cláudio, não mudei Rui, mas e...
Imagem
Duas fotos do instagram, a segunda é do @desencaixotando.me, o que tem escrito nela é bonito. As emoções do sofrimento humano são sempre de segunda mão, ouvi de Bartô numa constelação familiar. Prestei atenção e constato, é fato.  Toda a minha vida efêmera acontecendo enquanto existe, nascendo e nascendo no instante, e a interação com a roda da vida. Vou aprendendo a não mofar o presente, não entregando ele ao passado, como ensina  João. Aprendi dois movimentos, um é pra fora e o outro pra dentro.  Pra fora (embora pra dentro) relaxo no instante, presente no presente do presente, me abro e sem esforço tento apenas estar aberta. Aprendi que o surge são nomes da interpretação, as vezes já consigo só estar sem precisar nomear pra sentir segurança. Se algo surge, sinto e observo, fica e depois se vai. Pra dentro mergulho no passado que quando foi presente interpretei, reabro as memórias que nomeei com sofrimento, firmo a âncora no presente pro caso de me perder, e quando abro...
Imagem
  "Então eu experimentei uma viagem acidentada e se você de alguma forma estiver ligado a mim, você terá uma viagem acidentada, porque é assim que a nossa vida é".💞 "Deixe que tudo que há no corpo se revele pra que a vida cicatrize todo trauma, pra que o desejo seja o anexo da pele e a liberdade o corpo físico da alma, deixe que a sólida geleira descongele..." É bom acordar, é bom. Que eu esteja sempre desperta, mas como sempre não existe o sempre, que seja eterno enquanto dure. A eternidade dos instantes me interessa, bem dramático, bem ao meu estilo. Mai vamo concordar, a vida fica mais engraçada com drama, sem ela é uma estrada reta que não existe, então vamos de drama, razão, lógica, um tiquito de controle e risadas. Risadas são muito importantes.
Imagem
Quantos mergulhos vou dar no porão? Quantos eu julgar necessários. Tá cada vez mais fácil ir e voltar, e isso é bom, tem muito caminho já iluminado, tá chegando o dia que preciso mais mexer não, só deixar quieto mesmo e tocar em frente, quase lá. Já reconheço os gatilhos, já sei quando a visão de túnel se fecha e foi um trabalho danado aprender sobre eles, sobre desativar essa lente. Antônio foi o melhor professor, porque quando chegou eu já tinha acordado pra essa vontade, então quando partiu meu coraçãozinho eu aproveitei pra entrar inteira em mim, sim, a sensação foi dramática. Interessante saber que tem gente que morre por isso, congelada na ferida , uma vida inteira ali e o tempo passando. Não fui uma dessas e isso é bom, vou deixar pra morrer de morte morrida mesmo. Hoje eu vejo, porque me machuquei tanto? Porque acreditei demais e dependi demais, tinha muito da ferida ali, e pela primeira vez muito amor adulto também. Antônio aconteceu na transição, e olhando agora, nada mais na...

Luz no porão

Imagem
Sonhei que eu era exposta, eu estava em um grande salão no Oriente, rasgavam a minha roupa e eu era exposta para ser humilhada, eu continuava em pé e não sei bem o que aconteceu, mas tinha vários homens, senti vergonha e medo na camada de cima, mas dentro de mim havia coragem e raiva. Em seguida eu estava em outro grande salão, talvez eu estivesse em cima de um cavalo sentada de lado, participando de uma reunião de homens, lá na frente, em um lugar mais alto, um homem sentado, ele era muito rico. Alguma coisa acontecia e eu era colocada como culpada de alguma coisa injustamente, então comecei a gritar: Eu não tenho medo de homem! Eu não tenho medo de homem! Eu não tenho medo de homem! E repetia isso alto com voz de raiva, dentro de mim havia medo e coragem. Então de repente eu estava em pé, ou talvez sentada próxima do homem rico que falava, ele me olhou com raiva e me deu um tapa ou um murro no rosto e fiquei ferida. E senti a mesma sensação de quando Rui me bateu, medo e raiva, E sen...
Imagem
  Sexta participei de uma prática budista em dupla, um exercício, e aconteceu o que acontece aos domingos na reunião, eu sinto a energia da emoção da outra pessoa, era uma prática para estar com a vacuidade e falar sobre isso, mas a minha parceira falou sobre si, sobre seus medos e emaranhados, e em determinado momento quando chegou a minha vez de falar, eu estava com a presença da dor dela, e senti profundamente aquilo embora não estivesse sofrendo. Eu e uma desconhecida, e compartilhamos o que há de mais humano em nós. Ela se emocionou e eu também.  As vezes, acontece muitas vezes, as pessoas me contam sobre elas sem que eu peça, e eu gosto de ouvir, escuto com atenção e deixo que entre através de mim, então fico impregnada do outro. Sei fazer isso, e há poucos dias descobri que talvez isso tenha começado porque, como eu me julgo (ou julgava) demais e tenho medo do abandono e rejeição, eu aprendi a deixar o outro se mostrar e valorizo o que é compartilhado, talvez fosse o qu...
Imagem
Relembrar quem sou, ficar sempre saindo dos pensamentos intrusivos e me enxergar vivendo a minha vida do presente. A minha vida da vida inteira. Me ver bonita, me ver mulher, me ver querida, me ver inteligente, me ver amada. Sim, porque eu sou. Eu sou. Parar de me definir e de ver o mundo com uma única lente, a de uma criança que foi profundamente ferida. Uma criança que era livre e bonita e forte, e que passou a carregar o peso de uma pedra no meio do peito. Eu ainda carrego esta pedra, ganhei muita sabedoria sobre ela e através dela (através da dor). Estou profundamente cansada. Quando a instabilidade na saúde de painho se instala, consigo agir em tudo que é necessário, mas o preço é alto depois, mesmo ele ficando bem. É como uma espiral que se forma dentro de mim, uma força que me faz resolver o necessário com eficiência e destreza, então quando posso me acalmar um pouco, a espiral se desfaz formando uma grande onda que diz respeito só a mim. E de tanto resistir me sinto muito cansa...
Imagem
Ver painho definhar é uma das etapas mais difíceis que já vivi.  Ontem ele teve o primeiro acesso de raiva depois de meses, isso acontecia lá no começo da doença, e então aconteceu ontem. Ontem ele bateu no cuidador, apertou a mão da enfermeira e arrancou a GTT e teve que ir para o bloco colocar outra, deve ter doído muito. Eu só conhecia o Alzheimer de ouvir falar, em 2023 eu estava com meus pais na consulta, quando o médico definiu o diagnóstico depois de um petscan judicializado. Lembro de painho ter ficado muito vermelho, mas não chorou, e perguntou se podia fazer um gesto e o médico disse que sim, então fez o gesto de “me fodi”. Depois da consulta paramos na farmácia e mainha desceu para comprar um remédio. Ficamos só nós dois e eu perguntei: pai, como você tá? Ele respondeu com o rosto vermelho: mais ou menos, e calou-se. Neste dia não fui trabalhar, decidi ficar com eles, era perto do almoço e quando sentamos na mesa nós três tomamos uma cerveja. Brindamos à vida. Ver painho...

Ponto de ônibus em 2019

  Visão do inferno, mas era engano, pelo menos em parte. Gente, muita gente, e pobreza, e suor e carência. Eu estou ali. Não queria estar. Como queria estar de carro! (não posso negar a vontade, estaria mentindo) As roupas não combinam, os dentes faltam, as vozes são estridentes, o sofrimento é escancarado. Não é gostoso fazer parte deste cenário. Um adolescente gordinho segura a calça com uma mão para ela não cair e com a outra carrega uma sacola grande, passa rápido e desengonçado por mim, quase sinto o seu esforço e cansaço.  Consigo um lugar num banco improvisado de madeira que alguma alma caridosa fez, e sinto vergonha de estar ali, de estar pobre, suada, cheia de sacolas. E sinto culpa por desejar estar longe, por desejar passar na pista de carros. Sento e o ambiente me invade. A estrada lotada de tráfego pesado que passa na frente, o sinal que fecha e os ambulantes passam correndo nas pistas com suas carroças, driblando o tempo e se esforçando para empurrá-las nos desní...

Phoda 2

Viver tá dando um trabalho do caralho. Ouvi da irmã de painho: Lu, pra aguentar esse tranco, só indo pra esbórnia no final de semana, minha filha. Saia para se divertir e esqueça isso por um tempo... Tia, eu não tenho vontade, só disse isso. Omiti a verdade: tou tão cansada que a vontade é ficar sozinha quieta. O tempo que eu tenho livre tou gastando ficando quieta, ou na terapia, ou nos encontros da aula. Tenho bateria social não. Tá pifada, descarregada da silva. A vida além de não ser fácil tá difícil, e no final tudo acaba. Né phoda? Não, é não. É até bom, traz sentido ao que tou vivendo, bom ou ruim. E ri sozinha, viver tá dando um trabalho do caralho! O deboche ainda me salva. Passou o mau humor. Vou dormir.